1º de maio é uma data importante para todas as trabalhadoras e trabalhadores, mas hoje, em 2020, essa data tem algumas peculiaridades. Em primeiro lugar, estamos vivendo a primeida pandemia na era da informação. A facilidade de divulgação de informação – e de fake news – que temos hoje não se compara à época da Gripe de 1918[1] a ou da Grande Peste[2]. Ainda assim, são muitos os negacionistas, que chamam o COVID19 de uma “gripezinha”, ou que fazem pouco caso da pandemia, se achando com uma saúde inabalável devido a seu “porte de atleta”. As consequências dessa quarentena são inúmeras para todos e todas, tanto física quanto psíquicas, mas não só: nesse momento de crise da saúde, no Brasil nos deparamos também com uma crise política – na verdade uma continuação da crescente crise de representatividade da democracia burguesa -, com disputa entre os poderes e constantes ataques, por parte do presidente e seus aceclas, às tentativas de contenção do vírus. No meio disso tudo, os trabalhadores e trabalhadoras ficam divididos em uma série de situações problemáticas: há aqueles que foram demitidos, pois os patrões preferem demitir seus funcionários a conter seus gastos de outras formas; há os que continuam trabalhando presencialmente, por fazerem parte de trabalhos essenciais, porque são obrigados por seus patrões, ou porque não têm outra escolha; há os que não possuem mais fonte de renda, por serem trabalhadores autônomos, ou, para continuarem possuindo renda, se colocam em risco de contaminação; e há aqueles que conseguem trabalhar remotamente, muitos dos quais vêm se sentindo sufocados entre o trabalho e as preocupações que compartilhamos, alguns inclusive trabalhando mais do que o normal, por não terem mais horário de trabalho nessas condições.
As questões são diversas e, como sempre, aqueles e aquelas que são mais vulneráveis, se encontram ainda mais vulneráveis em contextos de crise. Muito tem se falado sobre as transformações já perceptíveis devido à quarentena. Para além do debate sobre quanto tempo ficaremos em casa – os que podem -, há um certo consenso de que algumas coisas mudarão definitivamente. O que não é claro, ainda, é quais serão essas mudanças. Entre os cenários positivos de que a solidariedade reinará – sem esforço, no capitalismo? – e os cenários negativos de maior controle do governo ou de empresas sobre as vidas das pessoas – com o esforço convencional do capital -, uma coisa é certa: nós, trabalhadores e trabalhadoras do mundo, não podemos deixar que as transformações positivas se diluam no tempo, nem que as negativas se transformem em realidade. Nossa luta não termina com o fim da pandemia – se houver um fim definitivo. Apenas começa uma nova etapa dessa luta inesgotável.
Por outro lado, essa data representa ainda mais para nós, do Portal Autônomo de Ciências: é hoje que completamos 2 anos de existência! Nesses anos, nos esforçamos para trazer um conteúdo de qualidade no que tange as ciências, tecnologia e humanidades. Não podíamos permitir que esse debate fosse construído a partir de uma visão tecnocrata (de direita ou de esquerda) e positivista. Fazemos o possível para contribuir com o campo autônomo, libertário e socialista, através de textos, entrevistas e debates, que são apenas o início de uma caminhada que, esperamos, ainda siga por muitos anos! Para além do que é postado em nossas mídias, ainda temos outras atuações que não aparecem em textos e pretendemos ter cada vez mais! Vimos pensando no que mais podemos fazer e podem ter certeza que o PAC vai crescer em atuação assim como tem crescido em alcance. Hoje, além de completarmos 2 anos de existência, ainda lançamos o nosso site: http://cienciaeautonomia.org/ . Somos muito gratos pelo CMI (Centro de Mídia Independente) ter nos cedido um espaço, e pretendemos continuar postando nossos textos em nosso espaço lá, mas sentimos a necessidade de um espaço nosso, com a nossa cara, e que pudéssemos organizar como bem entendêssemos. Esse é um pequeno passo, mas para nós é bastante simbólico do trabalho que vimos realizando.
Nesse tempo, falamos sobre os sucessivos ataques de políticas neoliberais a empresas importantes para o Brasil, como a Petrobrás, relatos do cotidiano de trablhadores dos aplicativos, imagens científicas que entraram para a história, ferramentas digitais para bularmos a burocracia e produzirmos uma ciência popular e autônoma, entre tantos outros temas. Nesses 2 anos de existência do PAC, conseguimos alcançar o surpreendente número de 236332 leituras (levantamento feito no dia 24/04/2020). Ao todo foram 53 textos, distribuídos em 8 grandes áreas (Política de Estado, Educação, Movimentos Sociais, Mídia Independente e Internet, Saúde Pública, Moradia, Movimentos Culturais e Meio Ambiente) e escritos por 10 pessoas diferentes. Números e áreas que continuam crescendo e novas pessoas que continuam a agregar.
Por fim, queremos agradecer a todos e todas que nos acompanham nesses 2 anos de existência e, aproveitando a oportunidade, pedir aquela ajuda camarada para curtir, compartilhar e comentar os textos. Afinal, diferente da ciência tradicional que comumente incorpora e espírito da voz da autoriedade, nós defedemos um conhecimento que fomente o debate. Uma ciência que seja popular, cidadã e crítica. Digam com o que concordam ou discordam e onde podemos melhorar. Falem conosco diretamente nos textos publicados, pelo nosso e-mail (pac@riseup.net), ou nas nossas redes (facebook e twitter). Participe do nosso trabalho e venha conosco para mais um ano de PAC!
↑[1] A Gripe de 1918 (também conhecida como Gripe Espanhola) foi a pandemia que ocorreu entre os anos 1918 – 1920, causada pelo influenzavirus H1N1. Estima-se que morreram cerca de 500 milhões de pessoas, o que na época era, aproximadamente, um quarto da população mundial. Apesar de ser mais conhecida como Gripe Espanhola, estudos recentes indicam que há indícios de que a doença pode ter surgido em campos militares dos EUA e Inglaterra. A alcunha de espanhola foi principalmente à posição de neutralidade que o país adotou na 1a Guerra Mundial, o que possibilitou maior atenção da mídia ao assunto, e também pelo fato do Rei Espanhol da época, Alfonso XIII, ter contraído a doença, o que ganhou destaque mundial.
↑[2] Também conhecida como Peste Bubônica ou Peste Negra (termo que a partir de revisões históricas e sociais, tem sido desestimulado o uso para que não haja interpretações raciais), ocorrida no período de 1346 – 1353, é considerada a pandemia mais devastadora da história da humanidade. Estima-se que cerca de 30%-60% da população europeia morreu devido a doença.
Parabéns pelos dois anos de ótimas produções ! E sigam em
frente, que a pegada tá boa!
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