O trenzinho caipira e outros trens do povão

A bordo do Trenzinho Caipira, seu Petrolino contemplava o Brasil profundo do interior (do seu coração). Com o vento acariciando o seu rosto, fechou os olhos enquanto (ou)via a paisagem. Sonhou o sonho que sempre sonhou. Inspirou(-se). Villa-Lobos regendo as cordas da sua expiração. O povão regendo o Villa-Lobos. Na partitura, o eco de quem plantou e o horizonte de quem vai colher. Mundo, mundo, vasto mundo, a rima é a solução. Clave de sol de cada dia o nosso pão. Saboreando doce de leite, seu Petrolino segura o pequeno barril com petróleo que sempre levava na bagagem e sorri. Apesar de amargar muitas derrotas, mantém doce a esperança. O Brasil é um sonho no pesadelo Brazil. Seu Petrolino não desiste do Brasil. Por isso, dribla e luta contra o Brazil. A Petrobrás (do povo, pro povo e com o povo) dos seus sonhos e das suas lutas é a embaixadinha do povão campeão. Leia mais

O sínodo pan-amazônico e a luta contra a privatização da Petrobras

No domingo 6 de outubro, começou, no Vaticano, o Sínodo Pan-Amazônico, organizado pela Igreja Católica. Essa grande assembléia de bispos com o papa vai até o dia 27 deste mês. Com raízes no Concílio Vaticano II, que foi uma série de encontros da igreja na primeira metade dos anos 1960 pra (re)conciliar a igreja com o povo e o seu tempo histórico, tendo como pano de fundo a teologia da libertação, que coloca a luta contra as injustiças sociais como parte fundamental da missão da igreja, o sínodo foi convocado pelo papa Francisco em outubro de 2017, como parte de sua política pra recolocar realmente a igreja como um dos principais atores geopolíticos, tanto pra fortalecer a instituição, que sofre grande concorrência de várias frentes, quanto pra, inclusive a partir desse reforço, influir mais diretamente e mais decisivamente nos rumos das nossas sociedades. A etimologia da palavra sínodo é caminhar juntos e, com esse simbolismo, o papa Francisco busca que a instituição e o povo caminhem juntos na busca por uma reconfiguração da organização da nossa casa comum, que é o planeta, na qual o catolicismo possa honrar a sua origem e tecer o universal com o pluriversal, entrelaçando, assim, os versos do grandioso e simples poema concreto que é a construção cotidiana, tanto pessoalmente quanto socialmente, do Reino de Deus na Terra. Quem participa dessa construção deve aliar a humildade de saber que se trata de uma utopia tecida por mãos imperfeitas e a dedicação pra sempre caminhar rumo ao belo horizonte, sabendo que, como bem definiu o escritor uruguaio Eduardo Galeano, quando nos aproximamos dele, ele, ainda que nos acolha, estará sempre mais adiante. Mais diretamente, nesse encontro, que contou, em sua preparação, com muitas pessoas da região amazônica, o que está sendo procurado é como a igreja pode se desenvolver melhor nessa parte do mundo e como pode contribuir pra que os povos desse território possam usufruir de vida, e vida em abundância. Leia mais

Se os petroleiros boicotassem o Santander

A hierarquia privatista da Petrobras concluiu no dia 13 de junho a privatização de 90% da sua subsidiária Transportadora Associada de Gás (TAG) pra transnacional franco-belga Engie, do ramo de energia, e pro fundo canadense Caisse de Dépôt et de Placement du Québec (CDPQ), também transnacional. Mais precisamente, a composição… Leia mais

Por uma política de preços de derivados popular e anti-privatista

A paralisação de caminhoneiros, de 21 de maio a 31 de maio, marcou parte do cotidiano em muitas partes do Brasil, com filas extensas de caminhões em várias rodovias, bloqueios em alguns pontos, desabastecimento parcial de muitos itens, inclusive alimentos (o que dificultou muito a chegada de ingrediantes pra preparação da merenda nas escolas municipais do Rio de Janeiro e acarretou a suspensão das aulas nesses estabelecimentos, por exemplo). O debate sobre a caracterização desse movimento é importante. Mas seja uma greve, seja um locaute (uma paralisação orquestrada por patrões), seja um pouco de cada, em maior ou menor grau pra cada lado, colocou como uma pauta de destaque, de modo bem direto, a atual política (notemos bem: política) de preços de combustíveis, que a hierarquia da Petrobras apresenta como técnica (notemos bem que a intenção é fazer parecer que não é política), e, de modo indireto (mas um indireto bastante direto), a relação entre essa política de preços e a privatização da Petrobras (mais precisamente, o aprofundamento aceleradíssimo dessa privatização, pois ela não começou agora). A greve parcial dos petroleiros, de 30 de maio a parte do dia 1º de junho (o momento de saída da greve não foi o mesmo em todos os locais), teve um papel de destaque na politização (no bom sentido da palavra) da pauta dos preços dos combustíveis, ao relacionar didaticamente a política de preços dos combustíveis (e não apenas do diesel e da gasolina, mas também do gás de cozinha, por exemplo) com a privatização da Petrobras, especialmente das refinarias, e até com a transformação da Petrobras de uma empresa integrada de energia pruma exportadora de óleo cru. Ambas as paralisações foram também, tendo sido ou não a intenção dos seus autores (ou pelo menos de parte deles), uma aula prática sobre como a logística e o petróleo (e, de modo mais amplo, a energia) são especialmente estratégicas. Dito de outra forma, que a vida das pessoas, principalmente do povão, depende muito das políticas em torno da logística e da energia. Leia mais