Um portal in(comum)

4 anos… E preparando 5, 6…

O Portal Autônomo de Ciências (PAC) está completando 4 anos. Ao longo desse tempo, nos dedicamos a abordar diversos assuntos, como informática, acesso a conhecimentos científicos, a fascistização mercantil da educação, a privatização da saúde, assim como da ciência e da tecnologia, a colonização de que muitos museus ainda participam, a manipulação da memória a partir da destruição de museus, a transformação da cidade num Banco Imobiliário que expulsa pobres ao mesmo tempo em que produz cada vez mais pobres, a educação infantil e as crianças como construtoras do seu conhecimento, a pós-verdade, o impacto da inteligência artificial na nossa vida (e na própria construção da ciência) e suas implicações éticas, a distopia dataísta, o fisiologismo nas eleições presidenciais brasileiras em 2014 e 2018, o fisiologismo também no movimento estudantil de pós-graduação, assim como as dificuldades enfrentadas por bolsistas que tentam se organizar como trabalhadores numa instituição científica, a luta de trabalhadores de plataformas de aplicativos, a covardia bastante comum na chamada comunidade científica, a descoberta do LSD, o apagamento das mulheres na história da ciência, um buraco negro fotografado, a revolta negra nos Estados Unidos a partir do assassinato do George Floyd, a “espiritualidade” neoliberal, a importância da descolonização dos pensamentos, a física quântica, o prêmio Nobel de física, a importância de uma racionalidade libertária, a pandemia do novo coronavírus e a corrida das vacinas, o futuro da humanidade, a ação direta, a privatização tecnocrática em curso do sistema Petrobras, o povão, a Semana de Arte Moderna, a Comuna de Paris, Villa-Lobos, Glauber Rocha, as ditaduras na Argentina e no Chile, a disputa pela hegemonia mundial entre o atlantismo imperial e o projeto eurasiático multi-polar e o futebol, entre outros. Isso pra falar apenas do que publicamos no portal propriamente. Há mais temas na rede digital que temos utilizado. Sempre tendo como fio condutor a crítica à tecnocracia, ao mito de que a técnica é neutra, ao tecnicismo anti-científico, entrelaçado com outro fio condutor, que é a luta por uma ciência descolonizada e mestiça, com erudição popular, que seja parte da construção de uma sociedade livre, fraterna e igualitária. Sempre lembrando de um dizer do revolucionário anarquista russo Mikhail Bakunin, que é epígrafe do PAC: “O saber quando não humaniza deprava. Refina o crime e torna mais degradante a covardia.”.

É incomum encontrarmos esse tipo de abordagem. Por um lado, vemos, em geral, odes ao cientificismo, com ou sem retoques de efeitos especiais; por outro lado, vemos, também em geral, com ênfase nos últimos tempos, um “cientificismo” da anti-ciência que recebeu o apelido de terraplanismo. Exaltadores manipuladores e manipulados da Galiléia querendo uma nova Inquisição contra Galileu. Lembremos: E pur si muove! (E no entanto se move!). A Terra… E a História.

O terraplanismo dificulta que amplos setores sociais nos dêem atenção, porque, dentro de uma lógica binária bastante forte, muitos críticos ao terraplanismo acham que têm que defender a ciência, como se fosse absoluta, inquestionável. No fundo, como se a tecnocracia estivesse certa.

Também é incomum encontrarmos um portal sobre ciências que não se restrinja ao que, por influência do cientificismo, é comumente chamado de ciências exatas. Que não (“)confunda(“) ciências exatas e ciência em geral. Ou mesmo não tente vestir as ciências chamadas de humanas com roupa de ciências exatas.

É especialmente incomum encontrarmos um portal que convide a ciência e a arte, como a literatura, a andarem de mãos dadas. Que as misture mesmo.

E também é incomum que uma crítica ao mito da neutralidade da técnica (e da ciência) não enverede pra discursos pós-modernos muitas vezes pseudo-científicos ou se restrinja aos limites que o liberalismo acabou permitindo (e sendo forçado a permitir) em pautas como as de gênero e anti-racista.

Nosso portal é, portanto, incomum. E é também comum. Porque pretendemos que seja um pão que as pessoas compartilhem. Dito de outra forma, nosso portal é como o povo trabalhador: vira-lata e grandioso ao mesmo tempo. Não por acaso foi inaugurado num 1º de maio.

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